A Casa da Mesquita tem uma longa tradição na extração de areia, atividade que desempenha um papel fundamental na economia da propriedade e para toda a área Metropolitana de Lisboa. Integrada na paisagem da Mata de Sesimbra, esta exploração é conduzida de forma responsável, respeitando normas ambientais rigorosas e garantindo a reabilitação progressiva das áreas intervencionadas.
Com este compromisso de exploração responsável e recuperação ambiental, a Casa da Mesquita demonstra como a gestão deste recurso geológico pode ser integrada num modelo sustentável, onde o desenvolvimento económico caminha lado a lado com a conservação da natureza e a valorização do território.
Características Geológicas
A Herdade da Mesquita distingue-se por uma geologia marcada pela presença de camadas alternadas de areia e argila, conferindo ao solo características únicas e relevantes para a gestão dos recursos hídricos. A camada superficial, composta por areia, é altamente permeável, permitindo que a água da chuva infiltre facilmente no solo.
À medida que a água desce, encontra uma camada de argila situada a profundidades variáveis, que atua como uma barreira natural. Esta argila, por ser impermeável, impede a passagem da água para camadas mais profundas, promovendo a acumulação de água entre as duas camadas e originando um aquífero superficial. A profundidade deste aquífero depende diretamente da posição da camada de argila, que, na zona de exploração de areia da herdade, se encontra entre os 10 e os 30 metros.
Este fenómeno natural não só garante a existência de reservas de água subterrânea, essenciais para a vegetação e a biodiversidade local, como também contribui para a sustentabilidade das atividades agrícolas e florestais da propriedade. A compreensão detalhada desta dinâmica geológica permite à Herdade da Mesquita gerir de forma eficiente os seus recursos naturais, promovendo a conservação e o uso responsável da água.
Aproveitando a geologia da propriedade, foi realizado um projecto de exploração, modelação e recuperação das explorações, tendo como objetivo a utilização futura dos terrenos para fins de turismo e preservação da biodiversidade.
A extração deste recurso teve início nos anos 70 e tornou-se uma atividade essencial para o abastecimento de areia da região da Área Metropolitana de Lisboa. Existindo hoje zonas com a sua recuperação ambiental totalmente consolidada.
Atualmente, a propriedade representa cerca de 38% da produção de areia da AML, sendo um fornecedor estratégico para diversas indústrias de construção civil e outras obras. A extração é realizada de forma controlada, respeitando um plano de gestão que equilibra a atividade económica com a conservação dos ecossistemas.
A Casa da Mesquita adota um modelo de recuperação ambiental inovador, transformando as áreas exploradas em espaços de elevado valor ecológico.
A recuperação é realizada de forma a criar um conjunto diversificado de planos de água com formas naturalizadas, onde é maximizado o comprimento da margem, já que são estas as que têm maior biodiversidade, com a criação de zonas de baixa profundidade, para o desenvolvimento de caniço e de habitats propícios a nidificação de aves e postura de ovos de peixe, insectos e anfíbios. Foram implantadas ilhas para a existência de zonas de nidificação de aves longe de predadores.
A recuperação das pedreiras de areia inclui a modelação do terreno e a criação de zonas húmidas, promovendo a biodiversidade e estabelecendo novos habitats naturais. Estas áreas reabilitadas contribuem para a regulação hídrica, a fixação de carbono e a preservação da fauna e flora locais.
Além da recuperação ecológica, a Casa da Mesquita aposta na valorização das áreas reabilitadas para fins recreativos e turísticos.
Uma das zonas anteriormente exploradas foi adaptada para a prática de desportos náuticos, oferecendo condições ideais para atividades como canoagem, paddle e vela.
Paralelamente, este espaço multifuncional tem sido utilizado para eventos culturais e de animação turística, promovendo o contacto com a natureza e dinamizando a economia local.
Fases do processo da exploração de areia
Fase 1 - Desmonte
Fase 1 - Desmonte
O objetivo do desmonte do talude na Casa da Mesquita, é permitir a extração do recurso geológico existente no local. Esta intervenção é realizada em articulação com o Plano de Gestão Ambiental e o Plano de Gestão Florestal, assegurando que a extração decorre de forma responsável, minimizando impactos ambientais e promovendo a requalificação e integração paisagística da área intervencionada. Assim, o desmonte do talude contribui para o aproveitamento responsável dos recursos naturais, em linha com as boas práticas de gestão do território. Toma início com a limpeza do terreno identificado, retirada de raizes, arbustos e/ou árvores, seguindo-se a exploração de areia acima do nível freático e posterior exploração de areia abaixo do nível freático, com a criação de um plano de água.
Fase 2 - Modelação
Fase 2 - Modelação final
Após a extração do recurso geológico, a modelação do terreno é essencial para garantir a sua estabilidade e integração paisagística. Esta fase redefine a topografia, assegurando condições adequadas de drenagem e preparação do solo. Esta modelação dos taludes e das margens do plano de água é realizada de forma a criar zonas de baixa profundidade e ilhas para nidificação de avi-fauna. Com base na nova morfologia, são plantadas espécies autóctones adaptadas, promovendo a regeneração ecológica, o controlo da erosão e a valorização ambiental do local.
Fase 3 - Recuperação
Fase 3 - Recuperação
Na fase de recuperação ecológica, a seleção das espécies vegetais é realizada por uma arquiteta paisagista, assegurando a sua adaptação ao ambiente aquático criado. São escolhidas plantas como caniços, freixos, choupos e outras espécies nativas com elevado valor ecológico, capazes de favorecer a retenção de água, melhorar a qualidade do solo e atrair fauna diversa. Esta estratégia visa promover a instalação de novos ecossistemas, incentivando a fixação da biodiversidade e a regeneração natural da área intervencionada.
Exploração de Argila na Herdade da Mesquita
A extração de argila na Herdade da Mesquita foi uma atividade de grande relevância histórica para a propriedade, tendo início nos anos 1970. O processo de exploração prolongou-se até 2014, altura em que cessou a atividade extrativa, embora o encerramento oficial só tenha ocorrido em 2024. Importa destacar que todas as áreas anteriormente exploradas já se encontram totalmente recuperadas, refletindo o compromisso da herdade com a reabilitação ambiental e a integração paisagística.
A exploração de argila foi realizada sobretudo nas zonas onde a camada de argila se encontrava mais próxima da superfície, facilitando o acesso ao recurso. Esta matéria-prima era fundamental para a indústria local, sendo utilizada principalmente na fabricação de tijolos.
Durante décadas, a argila extraída serviu sobretudo as cerâmicas da Península de Setúbal. Contudo, com a falência destas unidades industriais, as pedreiras de argila na herdade acabaram por ser encerradas, marcando o fim de uma era produtiva ligada à construção civil e à cerâmica regional.
Após o término da exploração, as áreas afetadas foram alvo de um processo de recuperação ambiental exemplar. Em várias dessas zonas, foram plantados sobreiros e pinheiros mansos, que hoje se encontram perfeitamente integrados numa paisagem defloresta mista. Esta requalificação permitiu não só restaurar o equilíbrio ecológico, mas também valorizar a biodiversidade e a sustentabilidade da herdade.
A história da extração de argila na Herdade da Mesquita é, assim, um exemplo de como a reconversão de áreas exploradas pode dar lugar a novos valores ambientais e paisagísticos, promovendo a harmonia entre o passado industrial e o presente sustentável da propriedade.